Imaginação, Fantasia e o Equilíbrio
Existem muitos estudos e opiniões diversas de vários profissionais sobre a fantasia na infância e nem todos estão em sintonia.
Então como encontrar o equilíbrio saudável no meio de tanta informação que nos é alimentada pelos vários meios e profissionais?
O Bosque Feliz traz aqui uma pequena reflexão pessoal minha como mãe há 24 anos.
"Para Montessori, existe uma diferença fundamental entre imaginação e fantasia. Imaginação é aquilo que surge da inteligência e que ultrapassa os limites da realidade conhecida. Fantasia, por outro lado, é a imposição de uma falsidade no plano da realidade, algo que violenta os limites da realidade conhecida de forma a fazer a criança acreditar que a realidade é diferente do que é."
(“Natal sem Noel: Uma perspectiva a favor da imaginação” Gabriel Salomão, Dez'12, Blog Lar Montessori)
A ideia e as experiências do funcionamento concreto do pensamento comprovam que o psiquismo humano (mente) não funciona apenas da percepção imediata e de um encadeamento racional de ideias, mas também, nas imagens irracionais do sonho, da neurose ou da criação poética. (DURAND, 2001. p. 35)
A imaginação adquire uma função muito importante no comportamento e no desenvolvimento humano. Ela transforma-se em meio de ampliação da experiência de um indivíduo porque, tendo por base a narração ou a descrição de outrem, ele pode imaginar o que não viu, o que não vivenciou diretamente em sua experiência pessoais. (VYGOTSKY, 1996, p. 125)
Imaginar é uma atividade de reconstrução, até de transformação do real, em função dos significados que damos aos acontecimentos ou das repercussões interiores que eles têm em nós. Não é afastar-se em relação ao mundo real; é seguir ao mesmo tempo uma via paralela. (Postic 1993, p. 13)
"Minha realidade é fantástica, assim como minha fantasia é real. (George Jeans apud Radino, 2003)"
Querendo ter a certeza de que a relação da criança com a verdade é sempre fortalecida, assim como a confiança no adulto que a acompanha, por vezes fica difícil gerir o equilíbrio entre uma boa fantasia e uma mentira que pode vir a causar sentimentos contraditórios como a dor, como a decepção, a perda.
Então como devem fazer os pais?
Eu pessoalmente acredito que, cada um deve viver a sua realidade da melhor forma e criar o seu próprio equilíbrio, de forma consciente das consequências seja qual for o caminho escolhido.
Lidar com a criança de forma verdadeira é essencial e a forma como abordamos os vários temas na educação da criança ao longos dos anos, é fundamentam para fortalecer a confiança no adulto e em si mesma, assim como na construção da sua própria realidade e escolhas da fantasia. Proporcionar a autonomia até nisso…
Como fazer isso? Eu só posso dar o meu exemplo mais recente… e deixar que cada um decida por si mesmo.
A Gabriela sempre acreditou no Pai Natal até que um belo dia, em conversa com o filho de uma amiga que lhe disse “Ele não existe”.
Neste dia, foi toda uma desconstrução de sentimentos em ambas, que poderia ter corrido mal, porque a primeira pergunta que ela me fez foi:
“Mãe, tu mentiste-me?”
Muitos adultos rejeitam esse tipo de conversa desconfortável, em que a criança posiciona-se de uma forma exigente, um estado que muitas vezes lhes é negado, mas as cirnais também têm o direito de exigir algo aos adultos, porque não?
Exigir o respeito e a verdade, como neste caso.
A minha explicação foi verdadeira:
“Filha eu te ensinei aquilo que eu acredito e lamento se por acaso isso pode parecer para ti ou para outros mentira, mas a verdade é que eu acredito que o Pai Natal existe e já conversamos sobre isso.
Se me perguntares se eu já o vi, eu vou te dizer que não, nunca.
Se me perguntares se eu acredito, eu vou te dizer que sim.
Se me perguntares se eu tenho a certeza de que ele existe, eu vou te dizer que só tenho a certeza com o meu coração, mas não tenho provas.
Eu acredito, porque para mim ele representa a magia da bondade, da compaixão, do amor pelo próximo numa altura em que tantas crianças precisam dessa magia e dessa fé. O amor e o acreditar vem de dentro e quando acreditamos tudo é possível”.
Mas a Gabriel, sendo Gabriela, não ficou por aí, claro. E diz:
“Eu entendo, é uma escolha o que estás a dizer, mas a forma como o H. Colocou as coisas, eu fico a pensar que a prendas que ganhei não foi o Pai Natal que trouxe, foste tu e aí mentiste”.
E bam, a humildade bateu em mim e eu respondi:
“Tens razão, neste sentido menti. Acreditei que havia reforçado o suficiente no teu coração do que o Pai Natal representa e deixei você preencher o vazio. Desculpa.
Aqui o meu coração estava pequenino, eu a pensar, falhei… e ela diz:
“Não faz mal mãe, eu acredito. Tu não mentiste, tu so não explicaste que tu ajudas a manter a magia viva.”
Seja lá o que isso quer dizer a 100%… mas a verdade é que eu plantei sementes que vão para além do Pai Natal. A minha relação com a minha filha, sempre baseou-se na verdade, na ordenação e construção da mente e do mundo que a rodeia, balada na realidade, sem tabus.
E hoje, 1 ano depois, a Gabi teve vontade de escrever a carta ao Pai Natal, mesmo sabendo que ele pode não ser bem a pessoa que compra, mas que ele mantém a magia viva mantém e só por isso, ele vivem em nós e na nossa família, de alguma forma.
E, para quem quiser fazer parte dessa fantasia connosco, temos a Carta do Pai Natal disponível para download aqui no site e, a partir do dia 25 de Novembro às 10h até 23 de Dezembro… podem vir deixar a carta no nosso marco do correio oficial do Pai Natal