Criando memórias de forma consciente e para toda a vida

Imaginação, Fantasia e o Equilíbrio

Escrito em 21 de novembro de 2023

Imaginação, Fantasia e o Equilíbrio

Imaginação, Fantasia e o Equilíbrio


Existem muitos estudos e opiniões diversas de vários profissionais sobre a fantasia na infância e nem todos estão em sintonia. 

Então como encontrar o equilíbrio saudável no meio de tanta informação que nos é alimentada pelos vários meios e profissionais? 

O Bosque Feliz traz aqui uma pequena reflexão pessoal minha como mãe há 24 anos.  

"Para Montessori, existe uma diferença fundamental entre imaginação e fantasia. Imaginação é aquilo que surge da inteligência e que ultrapassa os limites da realidade conhecida. Fantasia, por outro lado, é a imposição de uma falsidade no plano da realidade, algo que violenta os limites da realidade conhecida de forma a fazer a criança acreditar que a realidade é diferente do que é."

(“Natal sem Noel: Uma perspectiva a favor da imaginação”  Gabriel Salomão, Dez'12, Blog Lar Montessori)

A ideia e as experiências do funcionamento concreto do pensamento comprovam que o psiquismo humano (mente) não funciona apenas da percepção imediata e de um encadeamento racional de ideias, mas também, nas imagens irracionais do sonho, da neurose ou da criação poética. (DURAND, 2001. p. 35)

A imaginação adquire uma função muito importante no comportamento e no desenvolvimento humano. Ela transforma-se em meio de ampliação da experiência de um indivíduo porque, tendo por base a narração ou a descrição de outrem, ele pode imaginar o que não viu, o que não vivenciou diretamente em sua experiência pessoais. (VYGOTSKY, 1996, p. 125)

Imaginar é uma atividade de reconstrução, até de transformação do real, em função dos significados que damos aos acontecimentos ou das repercussões interiores que eles têm em nós. Não é afastar-se em relação ao mundo real; é seguir ao mesmo tempo uma via paralela. (Postic 1993, p. 13)

"Minha realidade é fantástica, assim como minha fantasia é real. (George Jeans apud Radino, 2003)"

Querendo ter a certeza de que a relação da criança com a verdade é sempre fortalecida, assim como a confiança no adulto que a acompanha, por vezes fica difícil gerir o equilíbrio entre uma boa fantasia e uma mentira que pode vir a causar sentimentos contraditórios como a dor, como a decepção, a perda. 

Então como devem fazer os pais? 

Eu pessoalmente acredito que, cada um deve viver a sua realidade da melhor forma e criar o seu próprio equilíbrio, de forma consciente das consequências seja qual for o caminho escolhido. 

Lidar com a criança de forma verdadeira é essencial e a forma como abordamos os vários temas na educação da criança ao longos dos anos, é fundamentam para fortalecer a confiança no adulto e em si mesma, assim como na construção da sua própria realidade e escolhas da fantasia. Proporcionar a autonomia até nisso… 

Como fazer isso? Eu só posso dar o meu exemplo mais recente… e deixar que cada um decida por si mesmo. 

A Gabriela sempre acreditou no Pai Natal até que um belo dia, em conversa com o filho de uma amiga que lhe disse “Ele não existe”. 

Neste dia, foi toda uma desconstrução de sentimentos em ambas, que poderia ter corrido mal, porque a primeira pergunta que ela me fez foi:

“Mãe, tu mentiste-me?”

Muitos adultos rejeitam esse tipo de conversa desconfortável, em que a criança posiciona-se de uma forma exigente, um estado que muitas vezes lhes é negado, mas as cirnais também têm o direito de exigir algo aos adultos, porque não? 

Exigir o respeito e a verdade, como neste caso. 

A minha explicação foi verdadeira: 

“Filha eu te ensinei aquilo que eu acredito e lamento se por acaso isso pode parecer para ti ou para outros mentira, mas a verdade é que eu acredito que o Pai Natal existe e já conversamos sobre isso. 

Se me perguntares se eu já o vi, eu vou te dizer que não, nunca. 

Se me perguntares se eu acredito, eu vou te dizer que sim. 

Se me perguntares se eu tenho a certeza de que ele existe, eu vou te dizer que só tenho a certeza com o meu coração, mas não tenho provas. 

Eu acredito, porque para mim ele representa a magia da bondade, da compaixão, do amor pelo próximo numa altura em que tantas crianças precisam dessa magia e dessa fé. O amor e o acreditar vem de dentro e quando acreditamos tudo é possível”. 

Mas a Gabriel, sendo Gabriela, não ficou por aí, claro. E diz: 

“Eu entendo, é uma escolha o que estás a dizer, mas a forma como o H. Colocou as coisas, eu fico a pensar que a prendas que ganhei não foi o Pai Natal que trouxe, foste tu e aí mentiste”.

E bam, a humildade bateu em mim e eu respondi: 

“Tens razão, neste sentido menti. Acreditei que havia reforçado o suficiente no teu coração do que o Pai Natal representa e deixei você preencher o vazio. Desculpa.

Aqui o meu coração estava pequenino, eu a pensar, falhei… e ela diz:

“Não faz mal mãe, eu acredito. Tu não mentiste, tu so não explicaste que tu ajudas a manter a magia viva.”


Seja lá o que isso quer dizer a 100%… mas a verdade é que eu plantei sementes que vão para além do Pai Natal. A minha relação com a minha filha, sempre baseou-se na verdade, na ordenação e construção da mente e do mundo que a rodeia, balada na realidade, sem tabus. 


E hoje, 1 ano depois, a Gabi teve vontade de escrever a carta ao Pai Natal, mesmo sabendo que ele pode não ser bem a pessoa que compra, mas que ele mantém a magia viva mantém e só por isso, ele vivem em nós e na nossa família, de alguma forma. 


E, para quem quiser fazer parte dessa fantasia connosco, temos a Carta do Pai Natal disponível para download aqui no site e, a partir do dia 25 de Novembro às 10h até 23 de Dezembro… podem vir deixar a carta no nosso marco do correio oficial do Pai Natal